Elisa Ferreira e o vazio político para o Porto

Publicado em www.jsdinvicta.com a 20/02/2009

Da apresentação da candidatura de Elisa Ferreira sobra muito pouco por onde pegar. Para além do aparato de VIPs convidados e do tratamento “cor-de-rosa” que os jornais teimam em aplicar ao evento, ficam apenas algumas frases grandiosas mas politicamente vazias sobre a visão da candidata socialista para a cidade do Porto. Quantas linhas se gastaram a escrever sobre a mediática presença do primeiro-ministro, de Mário Soares, dos vários ministros do governo, de Fernando Gomes, de Pinto da Costa (!), e quantas sobraram escrever acerca do projecto da candidata. Enfim, a Alfândega foi, mais uma vez, palco de um Big Show Socialista, à medida do que o secretário-geral do PS nos tem habituado.

Não se lhe pedia a apresentação do programa eleitoral nem da sua equipa. Apenas prioridades. Não seria certamente difícil para a candidata ideal à Câmara do Porto, como se apregoa, dizer quais as situações críticas sobre as quais incidiria com mais afinco no seu trabalho autárquico. Diz-nos apenas que "é urgente intervir nos bairros sociais pelo lado das pessoas, bem como no edificado degradado, onde grassam o envelhecimento, a desertificação e formas extremas de marginalização e exclusão, sobretudo no cento histórico e na zona oriental". Bem, tendo em conta que o trabalho do Dr. Rui Rio enquanto Presidente da Câmara se apoia nesses dois pilares que são a Coesão Social e a Reabilitação Urbana, com orgulhosos resultados para a cidade nessas áreas, muitas pessoas se questionarão então sobre o que trará esta candidata de novo. Diz também, "O Porto quer reganhar centralidade e protagonismo, quer ser uma cidade cosmopolita, quer ser parte activa na reconstrução da economia nacional". Estas palavras fazem parte daquele típico discurso esotérico que nada adianta à política local e muito menos aos portuenses. Além disso, Elisa Ferreira não se candidata nem à Junta Metropolitana do Porto nem à CCDR-Norte e, se não se revelar, desde já, capaz de descer politicamente aos problemas municipais da cidade, terá uma ínfima probabilidade de ganhar seja o que for no Porto.

Houve uma “urgente necessidade de intervir nos bairros sociais”, é verdade; mas hoje tal já não acontece, pelo menos de uma forma generalizada. O grosso do investimento autárquico é actualmente canalizado para a reabilitação dos bairros sociais, principalmente do edificado, mas também de toda a estrutura social que dá apoio aos seus habitantes. Falamos de escolas, associações culturais e desportivas, infra-estruturas diversas, etc. E não nos esqueçamos do papel que os programas “Porto Bairro-a-Bairro” e “Cidade das Pofissões”, entre outros, têm na promoção da coesão social. A aposta na igualdade de oportunidades através de uma gestão justa, equitativa e eficaz da habitação social é prova de que este executivo sabe definir as prioridades políticas da cidade e sustentá-las financeiramente de forma responsável. E a Coesão Social é, indiscutivelmente, uma prioridade.

Outra, a Reabilitação Urbana, também merece referência nas palavras da candidata. Pessoalmente, tenho em elevada consideração o trabalho da Porto Vivo - SRU e aplaudo o projecto global gizado para a reabilitação do centro histórico, sobretudo na relevância do papel da sociedade civil. É, aliás, graças à libertação desta última, anteriormente presa por longos processos burocráticos, pela pesada fiscalidade municipal, pela sujeição a normas rígidas e pouco práticas, que a cidade respira agora animação e (para espanto de todos, sobretudo socialistas) cultura. É verdade, a Câmara tomou a sensata decisão de deixar a sociedade civil tomar as rédeas da cultura e da criação artística, confiando no vigor criativo desta força gigantesca, que toma no Porto particular pujança. Vejam-se todos os novos espaços que abriram na cidade nestes últimos tempos dedicados à promoção das artes e de novos criadores. Veja-se a forma como um novo público se começam a interessar pela vida cultural da cidade, sobretudo aquela que toma lugar na Baixa e que em muito contribui para a sua reabilitação. Não nego o papel (apesar de tudo sobrevalorizado) da Porto 2001 nesta área, principalmente ao nível infra-estrutural. Mas o impulso vital que garantiu que o legado dessa organização não se perdesse foi dado por este executivo. E, actualmente, só diz que o Porto é um deserto cultural quem não conhece verdadeiramente a vida da cidade.
Depois de tanto tempo a apoiar modelos de habitação social, promoção da cultura, reabilitação urbana, entre outros temas, que se revelaram inúteis e viciosos, o PS nada de novo tem para apresentar à cidade que não o regresso a esses modelos. Voltaríamos a ver a Baixa regressar ao estado de hibernação e imutabilidade que a manteve em ruína durante tanto tempo; nos bairros sociais o ambiente degradante e corrupto que perpetuou a pobreza de tantas famílias que lá viviam e vivem; rios de dinheiro novamente a correrem para sustentar uma oferta cultural de qualidade dúbia, segundo os caprichos de uma elite que desconhece o conceito de boa gestão dos dinheiros públicos.
Desde que o Dr. Rui Rio assumiu a chefia do executivo camarário, uma nova cidade começou a renascer da cidade deprimida que encontrou quando lá chegou. Os resultados são visíveis e orgulhosamente os reconheço tal como grande parte dos portuenses. Agora que as coisas estão efectivamente no bom caminho não deitemos tudo a perder.