Nos meus últimos posts tenho mandado umas bocas vagas e
ambíguas sobre os filmes que andam por estes dias na ribalta. Vou aproveitar,
se não se importarem, este espacinho que me dão para descrever algumas
percepções pessoais sobre os mesmos.
Milk. Tendo já visto o seu mais feroz concorrente ao Oscar
de melhor filme (já lá vamos), apresento-o definitivamente como meu cavalo aos
prémios da noite de 22. É um biopic, lá isso é. Mas sobre a vida de um
movimento, de uma luta de milhares. Harvey Milk é apenas a redução humana desse
colectivo. Tudo se confunde entre essas duas ópticas – os impulsos, as
ambições, as frustrações. Ou não tivesse o Castro igual projecção e spirit que a do homem que dá nome ao filme.
Pela realização madura do Van Sant se percebe o cuidado com o equilíbrio
estrutural, com a homenagem documental da História, com o moldar da lenda
“Milk” evitando tentações épico-melodramáticas. Muito mais poderia dizer, mas
fico-me por aqui; quem quiser que gaste 4€ e vá ver um filme de gays (vá lá, o
síndrome Brokeback Mountain não corroeu assim tanto as receitas de bilheteira).
(9/10)
Vicky Cristina Barcelona. Não chega aos calcanhares do Match
Point. Este continua isolado como obra de mestre na recente filmografia do
Allen. VCB é mais um Scoop, produto “bonito” de um génio na reforma (ou em stand
by?), despretensioso, que nos quer contar uma história, que nos
mostra cenas, planos (e actrizes) bem feitos (as). Nem Barcelona nem Londres
conseguem substituir a Nova Iorque alleniana, e já vai chegando a altura de
deixar cair a pose de turista perdido de amores pela Europa e de voltar para
casa. Afinal de contas, já passaram quase oito anos e Nova Iorque há muito que
ultrapassou o traumanine eleven.
Excelentes interpretações dos actores espanhóis. E que sexy,
Penélope smoking. (7/10)
Slumdog Millionaire. Vamos lá a isto. Primeiro, devo
confessar a pena que tenho por ver o mundo desprovido de mais uma promessa do
cinema de autor – ou não tivesse o senhor Danny Boyle descoberto recentemente
as maravilhas do filme “chapa 5″, o mesmo canto da sereia que seduziu o senhor
Iñarritu (meu Deus, quantos mais se seguirão…). O início de SM aparenta um
“Cidade de Deus” à la indiana; e como seria interessante ver esse híbrido
projecto no ecrã. Mas fica para a próxima, o realizador está mais interessado
em brincar com os efeitos visuais cool que deve achar serem receita para
tudo. A história é a mais lamechas que vi desde Austrália, o que não teria mal
nenhum se tal fosse declaradamente assumido, em vez de se esconder atrás de uma
atmosfera “dura”, semeada pelo tráfico humano, corrupção, crime organizado e
por aquela miséria terceiro-mundista que tira o sono tanta a gente. É que além
de lamechas, o filme faz por ser o mais politicamente correcto. Nem tudo é mau,
claro. O Boyle tem jeito para a lamechice (quem diria, depois de Trainspotting)
e o romance adolescente trágicamente interrompido consegue dar o boost ao filme para aguentar com atenção o
festival de flashbacks eflashforwards sempre iminentes (o Boyle diverte-se
com estas coisas) que saltam entre o programa de televisão, a infância do puto
e o interrogatório na esquadra. Enfim. Fica a memória do bom filme que poderia
ter sido, se a parafernalia de floreados visuais, a estrutura rocambolesca e a
indefinição artística da realização não tivessem comprometido fatalmente essa
hipótese. (6/10)
PS: A programação do Fantasporto já foi anunciada, aqui.
O próximo post fica reservado a esse assunto. Meto agora o Lauro Dermio na
gaveta e calo-me.
publicado em 11.02.2009