Parêntesis


Com o Bloco como terceira força política é melhor ir dando umas achegas à esquerda que isto de sobreviver na tachocracia é complicado.
[Curiosa entrevista a que Paulo Rangel deu ao jornal I. Quando questionado sobre que livro andava a ler responde “uma biografia de São Paulo“. Na sua relação com a igreja católica diz-se concordar com a posição desta nas questões do aborto e da eutanásia, mas ser totalmente a favor da ordenação das mulheres e do uso de contraceptivos. Continua: “Na moral sexual em geral sou contra: casamento, divórcio, a questão dos homossexuais. Qual o princípio orientador que pauta este emaranhado de prós e contras? Não o diz. Quanto à questão do casamento entre homossexuais: “Eu percebo muito bem as reivindicações dos activistas e das activistas dos movimentos gay, mas acho que sociologicamente também temos que respeitar as convicções da maioria da população portuguesa, que é muito conservadora nesta matéria.” Ah, cá está – o princípio da maioria. Está explicado.
Sobre o crescente relevo que o Bloco de Esquerda vem assumindo na vida política portuguesa: Quem está no poder não se aventura nessa ingrata cruzada que é a “mudança de mentalidades”; prefere apoiar o convencional, tal como é da aprovação da maioria e como garantem os votos. Mas talvez a maioria esteja à espera de ser contrariada, que lhe mostrem novas visões do mundo e da sociedade. Talvez ache que já seja tempo de reciclar a herança moral que ainda trazemos dos tempos do Saudoso. Talvez a vida seja melhor e mais interessante numa sociedade cosmopolita, liberal e aberta. Talvez um pouco de rebeldia e de criatividade nos tire deste lamaçal de inércia,  preconceito e ignorância. Talvez seja isso o que importa e, isso é o que o Bloco representa para um número cada vez maior de portugueses.
Se o governo governa e se o parlamento discute a governação, então quem faz política? Ninguém quer correr riscos, ninguém quer investir em novo “capital político”. Há muito que grandes transformações ideológicas se cozinham nos bastidores do espectro político português mas que se mantêm suspensas já que os riscos são demasiado elevados: o eleitorado pode não aprovar, os militantes podem-se dividir, o poder pode-se perder para sempre. E assim os partidos do centro adiam as suas reformas internas confiantes que garantirão a sua posição dominante por mais algum tempo.
Face a isto temos o Bloco, o único partido político verdadeiramente a fazer política em Portugal, e o que mais tem contribuído para o declínio dos partidos do poder. Simultaneamente é também o que apresenta as propostas mais irresponsáveis e demagogas quando se trata de questões de governação. É um partido que contrasta a sua visão progressista da sociedade e da moral com um marxismo compacto e dogmático. Ataca a burocracia e o aparelhismo mas defende a intervenção pública em todo o domínio social; exalta as forças sociais emergentes ao mesmo tempo que defende a repressão das instaladas. É um outro princípio (não o da maioria) que jaz a esta forma de acção – o da mudança. Este, por si só, é incompatível com o exercício governativo, a cujos titulares os cidadãos exigem responsabilidade, coerência e estabilidade política.

É incrível como os políticos esquecem que os partidos a que pertencem são fundados em princípios absolutos e não corruptíveis pela vontade das maiorias ou pelo desejo de mudança per se. São duas forças que garantem a sustentabilidade do sistema democrático e que o reforçam quando os partidos se concentram em fazer política, e tornam a governação dependente desta actividade – claramente o oposto do que acontece por cá. Assim, a modos de Nostradamus Rebelo de Sousa prevejo, por isso, a continuação do mau tempo político no território português, pelo menos até ao MEP eleger o seu primeiro deputado ou o Bloco Central ficar abaixo de um resultado de 50%. Mazel tov!]



publicado em 11.07.2009