Pelo menos


Manuela Ferreira Leite pretendia, com o programa eleitoral do PSD, vincar, sem margem para dúvidas, a linha que separa o seu partido do de José Sócrates. Na verdade, não fez mais que deixar umas pistas, mais evidentes na área económica, mais ténues no restante programa. Quase que se adivinhava este desfecho quando a líder, há umas semanas, decidiu barrar à ala liberal do seu partido o acesso ao Parlamento. Não se estranha, por isso, que no âmbito social, sobretudo, os terreno laranja e rosa se voltem a confundir. É muito positiva a denúncia do “dirigismo asfixiante do Estado” na economia; mas nada é dito sobre esse dirigismo ao nível das relações sociais. Sobre a justiça, educação e segurança social apela-se a um ambiente de responsabilização e valorização da competência individual; mas o dedo do Estado continua a marcar o passo de muitos aspectos da nossa vida (de facto, de muitos aspectos que nos são demasiado íntimos). Apesar de tudo, não se esperava uma revolução no mais liberal (no tradicional sentido da palavra, sem o pejorativo “neo” a anteceder-lhe) partido português. É, por isso, de saudar um programa que, pelo menos, aponta um rumo nesse sentido.


*No espírito daquela mania que muitos têm de recomendar aos outros determinado “livro chave”, com o argumento de que se o fizerem contribuirão significativamente para o bem estar da humanidade, caio eu agora na tentação de fazer o mesmo com o On Liberty de John Stuart Mill, já aqui citado, senão a bem dos 6 biliões de pessoas deste planeta, pelo menos dos próprios leitores.

publicado em 28.08.2009